Hoje venho falar-vos e partilhar com vocês informações importantes sobre um tema que vem ganhando destaque na área da psicologia: o burnout parental.
Primeiramente, importa ressalvar que o burnout parental é distinto do profissional, no sentido em que este último está correlacionado ao trabalho, o trabalhador afasta-se emocionalmente, perde eficiência e há um declínio no desenvolvimento e rendimento profissional; já no burnout parental, a exaustão está relacionada ao papel de pai e mãe, acarretando sérias implicações para estes, para os filhos e mesmo para as relações conjugais.
Como é sabido, a complexidade das funções parentais acarreta múltiplos desafios. Gerir o tempo e as responsabilidades no campo laboral e familiar, afigura-se, muitas vezes, como uma fonte de stress e desgaste emocional e, assim, o burnout ocorre quando há uma incompatibilidade prolongada entre os stressores percebidos e os recursos no domínio parental.
Esta problemática envolve a exaustão emocional, que corresponde a uma sensação de cansaço e exaustão relativamente às tarefas parentais (por exemplo, os pais sentem que ser pai/mãe exige muito envolvimento e esforço, deixando de retirar prazer da realização de atividades com os filhos). Seguidamente, é frequente se sentir ineficaz no seu papel parental e isto reflete-se em não se sentir feliz enquanto pai/mãe, havendo contraste com o eu parental anterior e o eu parental atual, podendo despoletar sentimentos de culpa.
Carateriza-se também pela sensação de ineficácia no desempenho das tarefas parentais, que se reflete numa perceção de que não conseguem lidar com os problemas de forma calma e com eficácia. Por último, denota-se um distanciamento emocional dos filhos: os pais em burnout tornam-se cada vez menos envolvidos nas tarefas parentais e no relacionamento com seus filhos, fazem o mínimo necessário pelas crianças, procuram limitar as interações e restringem-se aos aspetos funcionais e/ou instrumentais da função parental em detrimento dos aspetos emocionais (Mikolajczak et al., 2018).
Desta forma, o burnout parental não afeta apenas os pais, mas também tem um impacto significativo na dinâmica familiar e no bem-estar das crianças. Os pais em burnout podem ter dificuldades em estabelecer vínculos emocionais saudáveis com os filhos, o que pode levar a problemas de comportamento, baixo desempenho académico e dificuldades sociais nas crianças. Além disso, o relacionamento entre o casal pode ser afetado, levando a conflitos conjugais, desgaste emocional e até mesmo separação ou divórcio.
Os sintomas do burnout parental podem ser variados e se manifestar de diferentes formas em cada indivíduo. Alguns sinais comuns incluem:
Cansaço constante;
Irritabilidade;
Falta de energia;
Dificuldades de concentração;
Sentimentos de incompetência;
Isolamento;
Perda de interesse nas atividades diárias;
Problemas de sono.
A prevenção e intervenção no âmbito do burnout parental são fundamentais para promover o bem-estar da família. Alguns passos importantes incluem a procura de apoio social e redes de suporte, estabelecer limites realistas em relação às exigências parentais, praticar o autocuidado regularmente, equilibrar o tempo dedicado aos filhos com o tempo dedicado a si mesmo, procurar ajuda profissional e desenvolver habilidades de enfrentamento e de gestão do stress.
Em suma, o burnout parental é um problema sério que afeta muitas famílias atualmente. Reconhecer os sintomas, compreender as causas e procurar ajuda profissional são passos cruciais para lidar com esta condição. É importante lembrar que os pais também precisam cuidar de si mesmos para poderem oferecer o melhor suporte e cuidado aos seus filhos.
Posto isto, finalizo reforçando que o autocuidado não é um ato de egoísmo, mas sim um investimento necessário para oferecer um ambiente saudável, amoroso e propício ao desenvolvimento dos vossos filhos.
// Artigo escrito por Bárbara Fernandes, Psicóloga no Centro Clínico ADCA
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