O divórcio é um acontecimento crítico que afeta toda a família. Questões práticas associadas ao divórcio como ter de mudar de casa, redução do espaço doméstico e perda do poder financeiro podem causar grande stresse.
Este stresse acrescido, sentido pelos pais, poderá levar a que demonstrem, de forma menos evidente, a sua afeição pelos filhos. Por outro lado, as crianças podem reagir tornando-se mais agressivas, dependentes, desobedientes, exigentes ou distantes. Os sentimentos de culpa dos pais, a sua baixa autoestima e o medo de verem os filhos revoltados contra eles podem causar dificuldades acrescidas na comunicação, tornando-se menos consistentes na aplicação da disciplina.
Nalguns casos, as mães tentam assumir o anterior papel do pai, tornando-se mais severas e que pode implicar mais restrições e mais castigos. Os pais, por sua vez, poderão mostrar-se mais permissivos, evitando a disciplina, por medo de perderem o amor dos filhos. Já no que toca às crianças, os problemas podem intensificar-se se forem forçadas a escolher um dos lados para assegurar o afeto dos pais. Desta forma, o processo parental normal é perturbado, levando a um eventual agravamento dos problemas de comportamento.
Apesar de provocar alterações na dinâmica familiar, o divórcio não tem obrigatoriamente de causar cicatrizes psicológicas ou atrasos de desenvolvimento. O importante será a forma como os pais lidam com a situação, já que desempenham um papel essencial, protegendo os filhos e minimizando os efeitos no desenvolvimento social e emocional da criança.
Seguem algumas sugestões para ajudar a criança na adaptação a um divórcio e nas alterações da estrutura familiar:
· Será importante falar com o seu filho sobre o divórcio, cerca de uma a duas semanas antes da separação propriamente dita. Se a informação for dada muito tempo antes, a criança não acredita que vai acontecer; por outro lado, se for transmitida pouco tempo antes, a criança não vai ter tempo para se ajustar à nova realidade. Evite sobrecarregar o seu filho com pormenores desnecessários ou comentários depreciativos. Acima de tudo, importa realçar que o divórcio é entre os pais e que não afetará o amor que qualquer um sente pela criança;
· Assegurar ao seu filho de que não será abandonado, explicando que vai continuar a ter o pai e a mãe, apesar destes viverem separados, já que a criança precisa de informação concreta sobre cada um dos pais, onde cada um vai viver e com que frequência vão conviver;
· Tornar o mundo do seu filho tão sólido quanto possível, dando-lhe informação prática que o faça sentir-se seguro;
· Crie um ambiente onde o seu filho tenha a oportunidade de falar e expressar os sentimentos, na presença de comunicação aberta, e que o ajudará a perceber a informação que vai recebendo sobre o divórcio;
· Evitar ser negativo e manifestar raiva para com o ex-companheiro, já que os filhos devem ser mantidos afastados do conflito e encorajados a manter boas relações com o pai e com a mãe, sem que tenham de escolher.
· Ser consistente na imposição de limites e regras que ajude a criar um ambiente ordenado, previsível e seguro;
· Estabelecer uma prática de visitas que seja apoiada e respeitada pelo ex-companheiro, minimizando os conflitos em torno das visitas. As visitas devem ir ao encontro das necessidades de toda a família e devem refletir a vontade dos pais em se adaptarem à medida que as necessidades e circunstâncias de desenvolvimento dos filhos se vão alterando.
Acima de tudo, importa ajudar a criança a perceber que a separação é entre os pais e não com ela.
// Artigo escrito por Filipa Silva, Psicóloga
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