Não cumprir ou desobedecer designa, essencialmente, a recusa a dar seguimento a uma solicitação feita ou a uma ordem dada por outra pessoa. Este tipo de comportamento é comum e faz parte do normal desenvolvimento das crianças. Todas elas desobedecem de vez em quando e recusam-se a cumprir regras perfeitamente razoáveis e estabelecidas pelos pais.
O incumprimento atinge, por norma, o seu auge aos dois anos de idade, diminuindo a partir daí. Ainda assim, estudos indicam que as crianças com idades entre os quatro e os cinco anos obedecem, apenas, a dois terços das ordens parentais. Podemos afirmar que não obedecer de vez em quando pode ser um indício saudável de que a criança procura afirmar a sua independência, não sendo sempre sinónimo de incompetência parental ou manipulação da criança. Ainda assim, é comum vermos a desobediência ocasional acabar por provocar longas batalhas e lutas de poder que ensinam as crianças a resistir à maioria dos pedidos dos adultos.
Algumas das crianças que persistem na desobediência vivem em famílias com poucas regras, cujos pais são permissivos, não gostam ou não conseguem dizer não e não conseguem levar ao cumprimento das ordens. Por outro lado, no caso das famílias com demasiadas regras e disciplina exageradamente rigorosa, a desobediência também pode aumentar, já que os pais dão muitas ordens aos filhos, algumas delas desnecessárias, sem verificarem se são cumpridas.
Então, o que podemos fazer? Ficam aqui algumas estratégias para ajudar os pais a lidarem com a desobediência infantil:
1. Reduza o número de ordens e concentre-se nas mais importantes: decida com antecedência quais as ordens que são, realmente, necessárias; quando decidir dar uma ordem assegure-se de que está disposto a exigir o seu cumprimento; certifique-se, também, de que as suas ordens e regras são realistas e adequadas à idade do seu filho.
2. Dê ordens claras, específicas e positivas: seja explícito e mostre respeito nas suas ordens, explique em detalhe os comportamentos positivos que deseja ver no seu filho (por exemplo: “Caminha devagar”; “Vai para a cama, por favor”); evite ordens vagas, negativas e críticas (por exemplo: “Porta-te bem!”; “Acalma-te!”; “Porta-te bem uma vez na vida”; “Cala-te”). Ao colocar os seus filhos na defensiva é menos provável que lhe obedeçam. Evite também dar ordens em tom de pergunta, já que implicará que a criança terá opção de escolha e não cumprir será uma delas (por exemplo: “Não queres ir arrumar os brinquedos?”).
3. Dê-lhes tempo, se possível: será difícil para a criança largar uma atividade interessante e obedecer no imediato. Assim, em vez disso, utilize um lembrete ou um aviso algum tempo antes da ordem, que permitirá ao seu filho fazer a transição. Alguns exemplos podem ser “Mais cinco minutos e são horas de ir para a cama”; “Quando acabares de ler esta página, tens de ir pôr a mesa”.
4. Elogio o cumprimento de ordens: quando der uma ordem, faça uma pausa de cinco minutos para observar as reações; se os seus filhos fizerem o que lhes é pedido, manifeste o seu prazer e aprovação. Assim, o objetivo será a criança sentir que existem mais benefícios por obedecer do que por desobedecer.
5. Estabeleça programas de reforço: estabeleça um programa de reforço de acordo com o qual eles recebem pontos ou autocolantes de cada vez que obedecem sendo, posteriormente, trocados por itens de uma lista de recompensas.
6. Prepare-se para ser testado: é normal as crianças porem os pais à prova no que diz respeito a regras e ordens, especialmente se no passado as mesmas não foram aplicadas de forma consistente; prepare-se para encontrar desafios e tente ignorar os protestos mais fracos, deixe os seus filhos resmungar enquanto cumprem uma regra que achem desagradável, não é de esperar que se sintam sempre felizes a cumprir o que lhes pedem.
Em jeito de conclusão, os pais deverão utilizar o poder parental de forma responsável, compreender que a parentalidade não é uma democracia, caso contrário, terão tendência para evitar exercer a sua autoridade e a recorrer à disciplina.
O poder e a responsabilidade não estão distribuídos de igual forma entre crianças e adultos. As crianças necessitam ser ensinadas a partilhar, respeitar, esperar e a aceitar a responsabilidade pelos seus comportamentos.
Embora o estabelecimento de regras e limites possa levar as crianças a frustrar, desta maneira aprenderão a controlar-se, a serem mais tolerantes e a ajustar os seus desejos aos dos outros.
// Artigo escrito por Filipa Silva, Psicóloga
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