O suicídio e as tentativas de suicídio resultam e são sinais de grande sofrimento emocional e representam um desafio de Saúde Pública em todo o mundo, com impactos nas pessoas, mas também nas suas famílias, na sua comunidade e na sociedade.
Com o objetivo de sensibilizar e consciencializar as pessoas sobre este tema, foi criada uma campanha designada “setembro amarelo” (que se iniciou pela primeira vez no Brasil em 2015) com o propósito de chamar a atenção da população para esta problemática, combatendo o estigma e promovendo a saúde mental. O assunto é delicado e ainda está associado a muitos mitos e tabus, por isso, a organização da campanha acredita “Falar é a melhor solução”!
De acordo com dados estatísticos, o suicídio é a 2º causa de morte entre os jovens em todo o mundo, entre os 15 e os 34 anos. Em Portugal cerca de 3 pessoas morrem por suicídio a cada dia e muitas mais tentam fazê-lo.
É importante entendermos que, a probabilidade de uma pessoa cometer suicídio varia num contínuo, que contempla a ideação suicida – pensamentos, fantasias e preocupações com a morte, no geral, e com o acabar com a própria vida, em particular; a tentativa de suicídio – que corresponde a qualquer ação propositada, com uma intenção implícita ou explícita de morrer, independentemente da probabilidade do método escolhido realmente causar a morte, até ao suicídio propriamente dito, que se refere ao ato deliberado e intencional levado a cabo pela pessoa para por termo à própria vida.
Mas face a qualquer um desses grupos, naturalmente a questão à qual gostaria de saber uma resposta talvez se prenda com o que motiva alguém a escolher terminar com a sua própria vida. Em termos genéricos, por um lado, o suicídio veicula o desejo de uma pessoa em escapar ou terminar com o seu sofrimento (que é resultante de variadíssimos problemas) e, por outro lado, o seu desejo em comunicar o seu sofrimento aos outros – é um pedido de ajuda. O que sabemos também é que 90% das pessoas que cometem suicídio evidencia uma perturbação psiquiátrica, habitualmente depressão, no entanto podem existir outros problemas de saúde psicológica associados.
É importante percebermos que ter pensamentos ou sentimentos suicidas nem sempre resulta numa tentativa de suicídio, mas nunca devem ser ignorados. O suicídio é evitável por isso esteja atento aos sinais de alerta. Leve-os a sério e aja de acordo com isso. Não assuma que são meras chamadas de atenção ou manifestações inconsequentes. Pensamentos e sentimentos suicidas são sinais de grande sofrimento emocional e de que a pessoa precisa de ajuda, preferencialmente profissional.
Podem ser sinais de alerta:
Ameaçar suicidar-se (incluindo ameaças verbais como “estavas melhor sem mim”, “nessa altura se calhar já cá não estou”);
Desespero e falta de esperança;
Comportar-se de forma imprudente, impulsiva e envolver-se em atividades de risco;
Sentir-se “preso” (sem saída);
Aumentar o consumo de álcool ou drogas ou alterar a medicação habitual;
Isolar-se da família e amigos;
Sentir-se inútil, um “fardo” para os outros;
Agitação ou ansiedade intensa;
Mudanças de humor súbitas e intensas;
Sentir que não se tem razões para viver/que não se encontra um sentido ou significado para a própria vida (“quem me dera não estar aqui”, “nada importa”, “a vida não vale a pena”, “ficam melhor sem mim”).
Falar sobre saúde psicológica e sobre suicídio é um desafio que implica destruir mitos e eliminar a falta de informação. Ao contrário do que se possa pensar falar ou fazer perguntas a alguém sobre intenções ou pensamentos relacionados com o suicídio não incentiva nem “dá ideias” à pessoa. Pelo contrário, pode reduzir a ansiedade e ajudar a pessoa a sentir-se compreendida. Caso a pessoa já tenha pensamentos suicidas, saber que nos preocupamos com o ela o suficiente para falar sobre as suas intenções pode dar-lhe coragem para pedir ajuda e permite-nos procurar ajuda para a pessoa…
Um Psicólogo Pode ajudar!
A família deve procurar estar atenta e vigilante às rotinas do jovem. Deve evitar-se que fiquem isolados, tentar fomentar a ligação também com o seu grupo de amigos.
Tentar que os jovens tenham rotinas saudáveis, que passem por uma alimentação e qualidade do sono adequadas. Devem incentivar-se saídas frequentes para o exterior, sobretudo para locais relaxantes como a natureza ( mar, campo), mas igualmente procurar dinamizar os interesses próprios da adolescência, como idas a concertos, encontros com amigos, prática desportiva, etc.
O diálogo, cumplicidade, tempo de qualidade em conjunto, adequada relação pais-filhos, são fatores protetores muito importantes.
Os jovens que cometem suicídio estão num sofrimento psíquico intolerável, sentindo-se desesperados e sem vislumbrar alternativa. Muitas vezes fazem-no em momentos de enorme impulsividade. Nalguns casos, porém, existe uma premeditação cuidada.
A adolescência constitui um período de maior vulnerabilidade, devido a emoções intensas, sentimentos de incerteza e ambivalência, dúvidas sobre a sua identidade, pressões para ter sucesso, competitividade e individualismo, e incerteza em relação ao futuro. Em jovens mais frágeis, se vários acontecimentos perturbadores ocorrerem num curto espaço de tempo e se existir a perceção de fraco suporte social, o jovem poderá sentir que o suicídio constitui a única solução possível para as suas dificuldades ou problemas.
Mais uma vez, “Falar é a melhor solução”!. Mais uma vez, um psicólogo pode ajudar!
// Artigo escrito por Sílvia Oliveira (Psicóloga)
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